15 de jan. de 2012

METROPOLIS (1927)




Por Marcel Alves

                     O homem sempre teve vontade de saber como seria o nosso mundo nos anos futuros, e neste quesito a imaginação ia longe, bem mais do que nossa pequena tecnologia poderia alcançar até então. Muitos imaginavam como seria nosso ambiente, nossa civilização ou onde poderíamos chegar como por exemplo o filme VIAGEM A LUA (1902). Muitos dos mestres do cinema fizeram grandes filmes futuristas e aplicaram suas visões como é o caso de TEMPOS MODERNOS (1936) ou BRAVE NEW WORLD (1998), com críticas as culturas e sistemas políticos, prevendo a deterioração das civilizações desenvolvidas, já que elas abordam geralmente cidades que a Revolução Industrial fez verdadeiras transformações na relação do trabalho com o homem e a economia.


                Metropolis é a história de uma cidade que acontece em meados de 2026 (mesmo tendo sido feito em 1927), dividida em Cidade dos Operários, que era onde ficavam as maquinas, e o Clube dos Filhos, lugar que ficava a burguesia da cidade e onde você podia encontrar bibliotecas, teatros, estádios e etc. Certo dia o filho do chefe mor da corporação, que simboliza o governo (como em uma sociedade em que o mercado é que defini as regras), se apaixona por uma professora chamada Maria. Ela é praticamente a líder dos operários, disseminando a esperança de que um dia um mediador aparecerá para resolver a situação. Quando Joh Fredersen descobre que o filho se apaixonou por uma operária e que justamente ela está disseminando tais ideias, ele ordena o sequestro de Maria e compactua com a ideia de substituí-la por um robô. Transformada em uma mulher de lata, ela dissemina o ódio e a destruição.

                Como nos sonhos de todo líder ditador, a vontade de destruir aquela que simbolizava a saída para a população operária fez criar a Maria robô. Esta não era simplesmente a figura da Maria doce de outrora, era a figura distorcida e malévola que se poderia ter de um dos piores carrascos da humanidade. A Maria com uma face pacífica e iluminada, dá lugar agora a uma outra mulher carregada de escuridão nos olhos, num piscar torto para a sociedade que seduz a mente humana, humilha a esperança, acaba com a paixão, dando espaço para a emoção racional. A Maria de metal é a personificação física do egoísmo, da ganância,  do racional, dos pecados, de tudo que é capaz de destruir o homem e derrubar os pilares da sociedade . Esta era a escoria da sociedade operária, a gloria assassina, construída para destruir a esperança que habita as camadas mais interiores do homem, sentimento que se pode perceber, que se pode sentir, que diante da razão que o sucumbi, se esconde, nas mentes desoladas e alucinadas. Da mesma forma que Maria da bíblia concebeu o salvador, a com corpo e alma de ferro, tentou dar a luz a destruição.


                Abordando o expressionismo alemão, este filme é uma verdadeira aula cinematográfica. Com um ambiente criado a partir de cenários pintados, Lang cria sua cidade futuristas com altos arranha-céus, e com a câmera sempre apontando de baixo para cima, alem de nos dar a impressão  do quão alto eram os prédios, também denunciava o crescimento desproporcional das cidades. O prédio central da cidade era como a torre de Babel, como um grande sinal de um crescimento com base na ganância. Como todo expressionismo alemão, os personagens surpreendem o tempo todo, com personagens sem felicidade caminhando como zumbis sem rumo, como se vagassem pela cidade baixa. Era como se os homens não tivessem alma. Dentre muitas características, podemos ressaltar as pesadas maquiagens, os cenários com figuras geométricas sempre tortas e o ar, que alem de futurista, tem algo de sobrenatural. Vale ressaltar que assim que Hitler assumiu o governo, em meados de 1933, todas as obras de arte foram destruídas e foram proibidas qualquer manifestação artística e cultural naquele país, ou seja, qualquer coisa que pudesse denunciar o partido ou desestabilizar o governo era proibido.


                No campo político este filme ao mesmo tempo que levantava duvidas sobre seus reais interesses enquanto objeto de disseminação de ideia, e também era visto como uma mensagem de salvação para aquele povo, que após a 1ª guerra mundial, estava humilhado, derrotado e desesperado. Este filme aguçava as vontades e compartilhava com os objetivos que tinham tanto o partido nazista quanto o Comunista. Se por um lado o filme pudesse ajudar os nazista na sua disseminação de valores, uma vez que os operários estavam esperando um mediador que nunca aparecia para "salvá-los", se pondo contra o capitalismo nascente e trazendo a possibilidade de estabelecer um governo que fosse forte suficiente para erguer a Alemanha novamente, por outro ele poderia significar o inicio de uma guerra contra a estrutura de desigualdades sociais, dando espaço a um governo comunista que pudesse levar igualdade para todos os alemães. De fato o filme não serviu para ninguém. Primeiro porque acaba com uma moradora da parte baixa junto com o filho do grande "governante" da cidade, e sendo assim a economia de mercado ainda seria dominante, exceto porque agora talvez os operários tivessem melhores condições - de deixar o patrão mais rico; Segundo porque os nazistas ficaram surpresos com o filme e resolveram convidar Fritz Lang para ser o cineasta do governo, e uma vez que ele recusou, o diretor se mudou para os Estados Unidos.

               
                Este filme, é um clássico dos clássicos, não porque faz parte de um dos movimentos que mais influenciou o cinema no mundo, nem porque o filme tem uma ideologia dúbia, de um futuro incerto, e com um roteiro capaz de alcançar anos luz do período o qual ele foi idealizado e fabricado, menos ainda por todos os efeitos especiais, que mesmo sem qualquer tecnologia avançada, foi capaz de fazer delirar uma plateia de 1927, uma outra d0 século I e tantas outras que ainda virão, nem mesmo por ter como diretor Fritz Lang, um dos maiores diretores do cinema mundial. Ele clássico dos clássicos por tudo, e ainda por cima ser mudo e nos fazer não sentir falta em nenhum momento de alguma voz além da linda trilha sonora, que nos envolve e nos põe dentro filme. Toda a ideia colocada no filme é de fato algo que não acabou. Nosso mundo não está e, por muito tempo não estará, estabilizado político, militar e economicamente, e enquanto houver um mínimo de senso político e liberdade, este filme atemporal ainda será muito importante para disseminar ideias de um futuro próximo. Assim como as crianças no filme representavam a esperança, este filme é a esperança da arte prendendo e materializando em imagens, algo possível de acontecer e possível de ser evitado. Assim como criticava o expressionismo alemão, o homem não foi feito para ser racional. Há sempre de se ter algo entre as ações das mãos e o pensar da mente. Se não deixarmos que nosso lado humano flua com o coração mediador agindo em prol do bem estar comum para todos, continuaremos sofrendo da nossa própria doença, sufocando a nós mesmos nas nossas ideologias capitalistas racionais.



Título Original: Metropolis
Título no Brasil: Metropolis
País de origem: Alemanha
Ano de Lançamento: 1927
Direção: Fritz Lang


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