Por Marcel Moreno
Este filme é onde Woody Allen brinca com a vida, assim como quem
escreve um roteiro para um filme. Nele podemos notar a intenção do diretor de
poder dar rumos diferentes a uma vida, de acordo com alguns acontecimentos
inesperados que vão aparecendo, suas vontades e desejos e, sobretudo, e muito
importante, a partir da personalidade de cada uma. Assistir esta obra é quase ver dois filmes ao
mesmo tempo. Você vai viajando pelas histórias das personagens e vai saboreando
suas escolhas, possibilidades, rumos na vida, amigos, relacionamentos e
perspectivas. Apesar de duas personagens com praticamente a mesma história, sendo
as mudanças pequenas nuances características de cada Melinda, e com as suas
próprias personalidades, podemos encarar uma história totalmente ambígua, porque
tudo depende do ponto de vista. O segredo de ver o filme é talvez o abuso do
diretor quanto ao modo de fazer com que cada telespectador sinta algo em cada
momento.
Talvez para você a parte dramática seja a comédia, e talvez a comédia o drama, isso porque talvez nós rimos dos nossos medos, medos dos rumos e da não possibilidade de termos uma segunda chance. Essa comedia romântica leva você ao universo complexo das pessoas e dos seus relacionamentos. Não dá para encarar as Melindas como simples personagens diante de um arsenal de características intrínsecas a cada uma, que vão bombardeando as percepções de quem estão diante da película, faz com que a cada instante você possa entender uma Melinda como uma nova personagem, que começou nua e que vai ganhando características e sendo encorpada a cada cena e segue ganhando uma história.
Talvez para você a parte dramática seja a comédia, e talvez a comédia o drama, isso porque talvez nós rimos dos nossos medos, medos dos rumos e da não possibilidade de termos uma segunda chance. Essa comedia romântica leva você ao universo complexo das pessoas e dos seus relacionamentos. Não dá para encarar as Melindas como simples personagens diante de um arsenal de características intrínsecas a cada uma, que vão bombardeando as percepções de quem estão diante da película, faz com que a cada instante você possa entender uma Melinda como uma nova personagem, que começou nua e que vai ganhando características e sendo encorpada a cada cena e segue ganhando uma história.
No filme há uma
Melinda que era casada com um médico e tinha alguns filhos. Começou a ter um
caso com um fotógrafo, que acabou assassinando quando descobriu que este tinha
uma amante. Perdeu a guarda dos filhos e ficou sem a possibilidade de vê-los
por conta dos processos do marido, que muito bem relacionado, garantiu feito.
Ficou internada em uma clínica psiquiátrica por um tempo para se reabilitar.
Sem esperanças, aparece um dia na casa de uma antiga amiga para tentar um
segunda chance, ou algo parecido. Sem perspectivas de futuro, se aventura em
relacionamentos indicados pelas amigas, com o intuito de tentar viver novamente
um amor.
A outra Melinda,
é uma mulher que acabou na casa da vizinha, por conta do uso de algumas pílulas
que a fez passar mal. Conheceu sua nova amiga no hall de escada do prédio que
as duas moravam, justamente no momento que a vizinha voltada as pressas do
mercado onde foi buscar Whisky. Melinda estava chorando e foi indagada pela
vizinha de o porquê, que de pronto respondeu que não era nada que importasse. Pouco
tempo depois, com um pouco de coragem, bateu a porta desta mulher por não estar
se sentindo bem e foi acolhida como amiga pelo grupo. Melinda fora casada e
traída pelo marido. E em uma aventura amorosa feita por remorso, acabou sendo
traída também pelo amante fotógrafo. Desiludida, estudou arte e estava à
procura de um novo emprego em uma galeria de arte para poder recomeçar sua
vida.
Verificando cada
Melinda e suas características unas, veremos que cada uma além de
características peculiares, escolheu um rumo diferente para sua, a fim de
conseguir um rumo menos tortuoso para seguir a vida. Uma Melinda era totalmente
descontrolada, chegando a tentar cometer alguns suicídios. Era sempre
pessimista, sensacionalisando todos os fatos e levantando sempre as
possibilidades mais negativas. É hipocondríaca, e como se não bastasse, tem
indícios de depressão, além de viver para encontrar defeitos em si mesma. Em
quase todo o tempo é melancólica, a ponto de deixar extravasar suas
inseguranças e medos. Nada interessante, ela acredita que o seu relacionamento
que não deu certo é o assunto mais importante a ser ressaltado, dando pistas de
que não conseguiu se livrar por inteiro do seu passado. A outra Melinda é interessante,
é esperta, é astuta, sutil e inteligente. Faz qualquer um se apaixonar com suas
dedilhadas no piano. Ponderada, sabe encontrar o momento certo para tomar suas
decisões, e apesar de pouco ousada, sabe agir na medida. Alem de várias
qualidades, é sofisticada, o que ressalta ainda mais sua beleza. Sua forma
simples e singela mostra uma mulher que não deixa seu passado dominar seu
presente, o que a deixa disposta e entusiasmada para perseguir um novo rumo, um
novo amor. Não obstante, esta Melinda é uma mulher normal como todas as outras
– e vale lembrar que nenhuma mulher é simples na sua definição e nunca será
fácil entende o que passa em seu âmago – e o que a deixa tão leve é justamente
sua personalidade meiga e seu anelo disfarçado e sem pressa.
Suas conhecidas
tem maridos, também diferentes entre si, que define um pouco o lado masculino
da trama. A brincadeira de Woody Allen com eles são as possibilidades de influenciar
dos maridos e dos homens que aparecem aos poucos, ou em outras palavras, uma
jogada que pode dar certo, depende da sua escolha de quem você quer para o seu
futuro e como você se relaciona com eles. Referentes aos maridos, ambos são
atores e almejam um emprego. Enquanto um se esconde na possibilidade de atuar
no filme da esposa diretora, deixando de ser ousado, o outro é audacioso e
busca por uma vaga de grande porte. O primeiro homem acaba se apaixonado por
uma das Melindas, mas luta incessantemente contra os seus desejos, apesar de
morrer de ciúmes da moça, para que seu casamento não seja destruído por uma
paixão repentina, desejando que tudo pudesse ser resolvido com seus anseios
saciados e seu casamento fortalecido, sendo um personagem com características mais
afeminadas, não nos trejeitos, mas no papel que ele exerce dentro no
relacionamento. O outro, apesar de possuir uma esposa maravilhosa, não dá valor
a ela, e a trai, sem respeitar seu casamento ou a figura da mulher. Aqui
podemos perceber a dualidade da figura masculina. Mesmo que um deles pareça
exercer o papel do homem na sua relação, este não é puramente masculinizado,
visto que se rende facilmente aos encantos femininos, e a traição ocorrida é
ligada com a falta de respeito e a figura da mulher e a falta de compromisso
com seu relacionamento, conforme citado anteriormente. Enquanto a sociedade
prega que todos os homens traem como é um dos casos, o primeiro marido exposto,
apesar de não ser correspondido na cama pela mulher, respeita-a e é
comprometido com seu relacionamento, colocando em cheque seus sentimentos e
desejos, que poderiam ser apenas um calor repentino e passageiro ou não. Este
se apaixona por Melinda pela forma como ela o trata e sua atração não está
ligada diretamente somente ao sexo. O segundo, sem dar a mínima para qualquer
sentimento, que se mostra em determinados momentos do filme duvidoso em relação
à esposa, a trai sem nenhum remorso, fazendo jus a imagem do homem garanhão e
insensível a relacionamentos, mas que se choca ao desconfiar que a esposa está
tendo um caso com outro homem.
A figura das
esposas também possui uma dualidade. A esposa, que aqui toma o lugar do homem, é
uma diretora de filmes em busca de patrocínio para o seu trabalho. Esta não
valoriza tanto relacionamento, colocando seu trabalho sempre como prioridade,
deixando diversas vezes o marido de lado, e não corresponde as vontades
incitadas pelos desejos puramente fisiológicos do parceiro. A outra esposa é
professora de música, o que o marido acha que é um desperdício de talento. Doce
e meiga, adora o marido e o ajuda muito, e isso a faz carente, uma vez que ele
não corresponde da mesma forma toda a dedicação da mulher. Ela sempre procura
fortalecer o relacionamento tentando agradar o marido e usa de comprar
exageradamente para aliviar algumas deficiências. Ambas a esposas são de certa
forma dominadoras no seu relacionamento, embora uma tem um gral maior e outra
menor.
Os
relacionamentos do filme são praticamente todos conturbados, e a respostas é
porque ou as pessoas não sabem o que querem ou deixam de querer aquilo que queriam,
por culpa do parceiro, por culpa do próprio destino, ou por culpa de ninguém,
apenas mudou o ponto de vista. A traição é a pior saída para qualquer
relacionamento, porque destrói o parceiro e, se a parte culpada tiver um pouco
de valores, também sai ferida. Que relacionamentos não são fáceis todo mundo
sabe, mas a beleza do filme está justamente em mostrar como vemos as coisas.
Estas ideias duplas do relacionamento é que leva o telespectador a se pôr no
lugar dos personagens, e tentar a todo instante pensar em uma outra
possibilidade. A jogada com as duas Melindas vai dando segundas chances aos
nossos pensamentos que começam correndo pelo significado de relação e continua
pelo adultério. Sabemos desde o inicio do filme, quando os roteiristas estão
criando Melinda, mostrando que tudo poderia ser pensado assim ou de outro
jeito. Nós não temos segundas chances. Temos uma e uma vida. Não se prenda ao
passado e viva o presente. Se a oportunidade de gostar de alguém e ver que este
alguém também gosta de você. Deixe que outra pessoa lhe faça feliz também. A
vida é curta e pode acabar a qualquer momento. Tudo depende de como você encara
as coisas e assim elas podem ser engraçadas ou um martírio. Deixe-se ser mudado.
Todos mudamos. Nossos corpos são feitos de água, e como tal, podemos nos
adaptar a várias situações, basta querer.
Este filme é um
filme muito madura quando aborda o tema relacionamento. Em suma o ser humano é
mesmo face de uma mesma moeda. Tudo passa pelo nosso filtro personalidade,
interesses e de acordo com cada um de nós, é que chegamos a um determinado
local. Mas fica a mensagem de que devemos aproveitar os bons momentos.
Valorizar o parceiro. Amar quem nos ama. Às vezes pagamos preços altos pelas
nossas escolhas do calor do momento, e nos arrependemos depois. Temos que dar
valor a algo que nos toca na alma, pois a vida é muita curta, com poucas
possibilidades de escolha, e por isso
devemos sempre pensar em nós e no que nos faz be. A realidade é que ninguém
completa ninguém, mas é maravilhoso a ideia de saber que alguém em algum lugar,
seja longe ou do seu lado, pensa em você, lhe quer bem, e gosta de você, e
pensar também que você gosta de estar com esta pessoa, que gosta de como ela é,
que se preocupa com ela etc. A vida é curta e deve ser bem vivida. Não temos
uma segunda chance. A vida pode ser uma comedia ou uma tragédia. A chance é
agora. Faça acontecer.
Título Original: Melinda e Melinda
Título no Brasil: Melinda and Melinda
Ano de Lançamento: 2004
Direção:
Woody Allen
Honestamente, para mim, depois de Radio Days, essa é a melhor produção de Woody Allen! Como você bem apontou: a história é praticamente a mesma, mas são as nuances entre as duas histórias que realmente o tornam um grande filme. Já li bastante que Rhada Mitchell não se sustenta ao longo do filme, afirmação da qual discordo, pois creio que o empenho da atriz é fundamental para o bom resultado do filme. Gosto dessa brincadeira com a vida - vale enxergá-la através de qual vertente: a dramática ou a cômica? Para mim, um bom filme e, um elogio a você agora, uma excelente resenha que aborda bem a questão psicológica do filme que, a meu ver, quase extravasa a psicologia e chega na ontologia.
ResponderExcluirFico muito feliz que tenha gostado. Apesar de receber alguns recados dizendo que este é o pior filme dele, eu achei de um tremendo talento e visão, criar este filme. Claro que não acho a atuação da atriz digna de um oscar - deixo a escolha para os realmente profissionais - mas acho que a atuação dele foi sensacional. Acho justamente que a atuação dela não se sustenta, porque ela faz uma evolução durante o filme. A Melinda "drama" vai ficando mais "doente", vai se auto destruindo; Já a Melinda "co´media" vai com o passar do tempo meio que se auto descobrindo, amadurecendo. Obrigado por ter comentado. A construção das duas histórias é que não se sustentaria se a atuação da atriz não sofresse uma evolução ao longo do filme. Obrigado pelo comentário.
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