Marcel Moreno
FELIZ NATAL é o retrato de nossas famílias bagunçadas, da nossa
sociedade sem valores e da vida mal cuidada. Apesar de Caio não ter uma vida
maravilhosa, e nem ter feito muito em prol dela na sua juventude, foi voltando
ao seu passado que ele pode se redescobrir e perceber quem ele era, foi, é. Ele
não termina mudado, ele termina diferente, como quem aprende com os seus
próprios erros.
A família de Caio não era nada peculiar, tem muito de outras tantas. Ele não tinha uma boa relação com ela por causa do passado. Ora tido como ingrato, ora como mais um irmão, ele foi o único que se distanciou da família e fez o que os outros não fizeram, algo não imposto, algo diferente. Como se a mudança da capital para o interior pudesse significar um fechamento de si em si mesmo. Podemos perceber a figura dos país. Os avós brigam por motivos que só fazem esconder sentimentos presos em seus peitos, um gostar quase que arrependido de ter dado o desfecho que deu, mas que agora não poderia ser mudado, estabelecendo quase que uma batalha pela busca da humilhação do outro. Os filhos, que agora figuram na posição de pais, nada são atenciosos. Se a mãe é dura e fria, o pai é atencioso, bondoso e familiar, mas se abstém de certas decisões. São pais que não tem tempo para os filhos, deixando-os a mercê das informações publicadas na internet, como se estas fossem as mães dos futuro, aquelas que fazem chegar em seus cérebros jovens todas as informações zeladas por alguém que quer o seu bem.
Certo momento a matriarca
da família tem uma semi morte que é quase uma passagem de alguém que pouco se
importa com a vida, chegando a misturar remédios e bebidas, mas que após o
acontecido, levanta ideias do que significaria o natal. Mesmo lutando para
falar a mesa entre os familiares num almoço de natal, onde os filhos não dão
atenção preocupadas com assuntos fúteis e a ilusão de que ela está louca, ela
questiona: O que significa o natal? Não deveria ser uma reunião para lembrar o
nascimento de Jesus? Deveria, mas o que se vê é um comilança generalizada e a
espera pelo presente. Assim se põe nossa sociedade aos olhos do mundo contemporâneo.
Uma sociedade que não sabe mais avaliar as datas de reunião para pensar momentos
que poderão ser melhores, mas usam de datas especiais para estimular o
consumismo e a comilança, e quem questiona estes valores são taxados como
loucos.
Uma cena simples,
porem forte, é a de uma criança brincando com um carrinho, que pede licença ao
nascimentos de Jesus para passar, andando no sinal vermelho e se estacando no
sinal verde. Igualmente é o mundo que vivemos hoje. Vemos pessoas que agem
quando deveriam ficar paradas, para pensar, raciocinar, refletir, ponderar, e
outras que param quando deveria agir e de repente dar esperança, oportunidades,
felicidade. E vivemos desta forma, com licença nascimento de Jesus, data a qual
deveríamos rever nossos valores, e religião a parte, aproveitar a oportunidade
de rever seus passos e o que podemos fazer para construirmos uma sociedade
melhor, e passamos por cima em prol de nossos valores capitalistas, de um
consumismo crescente em nossa vontade de ter tudo, quando o que falta na
verdade não são os bens materiais, e sim os imateriais. Se pudéssemos comprar
valores, estes amargariam tempos e tempos nas prateleiras, porque só se vende o
que querem comprar, é a lei de mercado.
Este filme mostra
como nossa vida é feita de várias mortes e nascimentos ao longo de nossa vida
toda. A cada momento podemos aprender mais e sermos diferentes, e que só
depende de nós estas mudanças. A instituição família está falida, está saturada
dela mesma. Enquanto a sociedade mudou seus valores, as famílias ficaram
paradas no tempo com suas velhas doutrinas, sofrendo claro alguns ajustes aqui
e outros acolá, mas nada que pudesse dar a instituição família uma outra
estrutura mais forte para podermos inserir nossos filhos neste mundo sem que
este possa ser facilmente corrompido com valores minados por um mundo perverso.
Será então a sociedade auto destrutiva e perniciosa para ela mesma? Seria ela
inimiga dela mesma? A cada momento da vida da gente nos deparamos com novas
questões e frustrações. Como o significado de natal, que quer dizer nascimento,
que todos possam renascer em vários momentos com pensamentos melhores, como
seres melhores. Ficam aqui meus votos de feliz nascimento a todos que podem se
reinventar e driblar a sociedade, para nunca perder e nem corromper a sua essência.
Isto é um FELIZ NATAL.
*Texto dedicado ao grande Luiz Santiago pelo belo presente que me deste.
Parabéns pelo blog!
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