12 de jan. de 2012

ADEUS, MENINOS – AU REVOIR LES ENFANTS (1987)



         Por Marcel Moreno

                  “Adeus, Meninos”, apesar de trabalhar com crianças e seu espírito infantil, ele não é em nenhum momento inocente, e nem mesmo esta é a proposta. Este também não é somente um adeus às crianças que inocentemente, injustamente e precocemente foram mortas em campos de concentração na era Hitleriana, que ao mesmo tempo que derrubou sangue de milhares de vitimas, levantou a necessidade de se pensar em um novo mundo para que isto nunca mais ocorra. Este adeus é mais do que estas duas despedidas. Este Adeus é justamente a este universo infantil das crianças, onde habitam a inocência, a bondade, a boa vontade, e porque não a franqueza, para dar espaço a sentimentos mundanos como egoísmo, preconceito, disputa, ora mostrados nas interpretações dos garotos, ora presente nas atitudes dos adultos. Longe de dizer que o homem nasce bom e se corrompe com o meio, aqui as crianças, que vivendo a situação e a época que estavam vivendo, são praticamente obrigadas a deixar aflorar outros sentimentos, que parece que em crianças estavam adormecidos, tanto para cresceram como homens quanto para se protegerem. 




              Diferente do filme A VIDA É BELA (1997), onde Giosue era iludido pelo pai para não viver o inferno que era estar em um campo de concentração, aqui as crianças foram tiradas de seus mundos e afastadas dos pais por conta dos horrores da 2ª Guerra Mundial. Viver dentro de um internato católico e suas rigidezes só fazia amadurecer os garotos, colocando-os diante de uma necessidade de maturidade, que eles não tinham e por muito ainda não seriam capazes, mas que por forças maiores tiveram que deixar de serem verdes como crianças e crescerem como adultos. Em muitos momentos podemos perceber que nem todos os assuntos eram compreendidos por eles, que não entendiam a gravidade da guerra. Medos dos soldados “chucrutes” eles tinham, mas também não entendiam o porquê do medo. Sequer entendiam a gravidade de ser judeu ou o que isso poderia acarretar para um cidadão comum. Tendo que conviver com opiniões de adultos, que ainda eram difíceis de entender, Julien ficava divido entre saber o significado (que outrora descobriu que o amigo Jean era um judeu) e tentar tirar alguma informação e sua vida de criança, que por vários lutava para não deixa-la quando reclamava a atenção dos pais. 


               Diante de uma guerra como esta, a igreja católica em determinado momento apresenta seus valores colocando o dinheiro como a raiz do mal. Com a frase bíblica como a do camelo e o buraco de uma agulha e pensamentos de que “a riqueza material só corrompe o homem e endurece o coração”, a igreja vai tentando moldar o pensamento dos fieis, até o momento que um deles se sente ofendido e se retira. Neste mesmo momento é dito que um dos princípios do cristianismo é a caridade e que devemos rezar pelo próximo, mesmo que ele seja o carrasco, e que a igreja prega a obrigatoriedade de ajudar o próximo e contra a vingança. Valores estes que levantam certa divergência com o que realmente acontece, já que temos uma rica igreja falando de muitos pobres. Para os cristãos, sabemos que a hóstia e o corpo e o sangue de Cristo que é entregue a vos para garantir-lhes a salvação, mas não é o que ocorre quando Jean se coloca para recebê-la. A mesma igreja que protege judeus de um destino cruel, nega o pão de Cristo a um judeu. Essa dualidade de maldade nos personagens está impresso do começo ao fim da película pelo diretor. Em todo momento temos soldados alemães maus e bons, padres com valores errados e uma igreja capaz de se arriscar para proteger quem a Alemanha quer nos campos para a morte. Seria mesmo a o dinheiro a raiz de todo mau? Será que não é a ambição do homem que se deixa corromper com grandes quantias de dinheiro, que faz com que ele cometa atos inimagináveis contra outro homem, a fim de conquistar poder?

 
              Entre medos, verdades e desmistificações acerca da vida, estas pobres crianças foram descobrindo um mundo que elas não deveriam pertencer até que chegassem a ter algum conhecimento que pudesse introduzi-los neste ambiente cruel e impiedoso. A forma como foram introduzidas, com dor e sentimentos adversos que elas não conseguiam entender, fez com que elas crescessem sem aproveitar sua juventude, uma vez que eram submetidas a fugas e necessidade de se esconder cada vez que uma bomba era lançada ao chão. Mesmo que momentos em que elas podiam ser crianças e brincarem, não superam e nem reembolsam o tempo que foi subtraído por causa da guerra, e menos ainda para Jean, que não desfruta de todos os prazeres da vida que lhe é roubado ainda no alvorecer. Este filme não é nada inocente, e mesmo que pareça, ele é como uma criança que amadurece com as cenas, e tira a inocência do telespectador que o acompanha. E mesmo que digam que a maldade está nos olhos de quem vê, não temos culpa se em algum momento da vida nossa sabão não faz espuma. Observando as crianças, fica a questão se somos bons corrompidos pela maldade ou maus esperando que este sentimento floresça. Na vida somos obrigados a perder a inocência, e nos entregarmos às sabedorias mundanas, cabe a nós decidirmos o que queremos pactuando com os nossos valores, a maior deficiência do mundo contemporâneo.









Título original: Au Revoir Les Enfants
Título no Brasil: Adeus, Meninos
Ano de lançamento: 1987
Diretor: Louis Malle

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