Por Marcel Moreno
“A arte das pessoas é o real espelho
de sua alma” – Aung San
Um governo
militar parece legitimo somente no olhar daqueles que deste conseguem algum
benefício, mas aos olhos daqueles que sofrem opressão, censura ou perda da
liberdade não passa de governos oportunistas e de semeadores de desigualdade, o
qual o que impera é a sede por poder e motivada pela vontade de gerar ganhos,
sejam eles financeiros ou em benefícios próprios, sobre a classe menos
favorecida. Essa situação deplorável que se encontram alguns países é a mesmo
que se encontra a Birmânia ou Mianmar, e só mesmo uma figura heroica para unir
seu povo em prol da esperança de dias melhores.
Aung
San Suu Kyi (pronuncia: Aun San Su Ti), filha de Aung San, homem que liderou o
fim da colonização britânica, seguiu os passos do pai para libertação do povo,
investindo na luta pacífica através do dialogo inspirado nos discursos de Dalai
Lama para salvar sua nação de uma ditadura militar. Após anos morando na
Inglaterra, retorna ao seu país primeiramente para cuidar da mãe que está
doente. Após sua chegada, se depara com um Estado que não respeita o seu povo,
o pressiona, censura e massacra, principalmente seus estudantes e professores
universitários, a principal força pró democracia do país. Diante de tal
situação e sendo a tão aclamada filha de Aung San, Suu decide ficar e lutar pelos
direitos humanos e a democracia desafiando o poder militar. Prestas para
assumir a cadeira de primeira ministra de Mianmar, ela é condenada a prisão
domiciliar, de onde não parou de comandar seu povo a exigir a democracia em seu
país, abandonando até mesmo sua vida pessoal.
Se
as belas imagens de Mianmar fazem brilhar os olhos de turistas diante de uma
flora com beleza incomensurável, para seus cidadãos, o paraíso é mera imagem
deste inferno contundente que nada nem ninguém se salva. As belas fotografias e
os ótimos enquadramentos das imagens ressaltam ainda mais a nossa visão, o
contraste da situação do povo e a sua forma física. O vermelho é muito usado
assim como em vários filmes asiáticos como FLOR DA NEVE E O LEQUE SECRETO (2011),
sejam elas para representar as investidas socialistas desta guerreira, seja
para dar alusão aos valores de Karl Marx ou para lavar o chão Mianmar com o
sangue de seu próprio povo.
Um
dos grandes destaques do filme sem dúvida é a estrondosa interpretação de
Michelle Yeoh. Ela consegue trazer a tona a simplicidade e calma da verdadeira
Aung San Suu Kyi e a sua dificuldade de expressar seus sentimentos, qualidade
esta que já pertence a personalidade da atriz por ser Malasiana filha de
chineses. Todo este universo de
expressões corporais asiáticas tão opostas as expressões dos brasileiros,
enriquece ainda mais o filme e demonstra a qualidade de Yeoh. Sua
caracterização a deixa idêntica a líder política, nos deixando confusos ao
longo do filme. As imagens reais do acontecimento não dão um tom de
documentário ao filme e nem o empobrece, imagens essas que se confundem com as
cinematográficas, tamanha a qualidade da produção.
Esse
pequeno pedaço emocionante da história da Birmânia ou Mianmar vai alem de
mostrar um drama familiar ou acontecimentos dentro deste Estado. Nos incita a
repulsa contra estes tipo de governo e nos mostra o lado real da ditadura, da
opressão, da censura, da sede por poder sem limites, da direita conservadora,
fato este que aconteceu em vários países do mundo nas décadas de 60 e 70. Se os
EUA apoiavam as ditaduras com o intuito de prevenir que estes países se
tornassem comunistas, foram eles que mais tarde solicitaram ao governo golpista
que deixassem que Suu recebesse a visita de seu marido inglês ou a soltura
desta líder popular, mas somente bem mais tarde, porque antes disso o governo americano
nada fez esperando que com essa atitude pudesse estar abrindo espaço para
influência da China em Mianmar. O filme mostra um passado birmanês que se
mistura com o presente e clama por um futuro democrático e justo. Diante de
tais fatos e brigas por direitos humanos que Aung San Suu Kyi pede a todos que
usem sua liberdade para lutar pela liberdade de todos, ou morreremos sozinhos
em uma sociedade vazia dentro dos nossos próprios mundos.
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