6 de fev. de 2012

ALEMANHA, ANO ZERO - GERMANIA, ANNO ZERO (1948)





"Nesta perspectiva, o cinema vem a ser a consecução no tempo da objetividade fotográfica.
O filme não se contenta mais em mostrar para nós o objetivo lacrado no instante, como no âmbar o corpo intacto dos insetos de uma era extinta, ele livra a arte barroca de sua catalepsia convulsiva. 
Pela primeira vez, a imagem das coisas é também a imagem da duração delas, como que uma múmia da mutação".
Livro: A experiência do cinema. Ismael Xavier. P 126.

                O que seria de um país ao término de uma guerra? Como seria sua população? Em que condições viveram? E se este país fosse a Alemanha após o fim da Segunda Guerra mundial? Você conseguiria imaginar com imagens? Esse era justamente a proposta do neo realismo italiano, colocar você o mais próximo possível dos fatos reais. Em ALEMANHA, ANO ZERO", Roberto Rossellini parte do pressuposto que seu trabalho agora era o de mostrar a realidade em filme, retratando o situação da Alemanha no pós guerra, assim como fez em ROMA CIDADE ABERTA (1945), e agora nada e nem ninguém escapa a sua lente. Vamos de prédios destruídos a moradias precárias, de pobreza e fome ao abuso praticado por outros, da deterioração da juventude, da falta de esperança e da desgraça que perdura na Alemanha do Führer. Se outrora era desenvolvida e poderosa, agora terá que se reconstruir do zero, e é ai que surge  a ideia do título, uma vez que a Alemanha destruída teria que se reinventar.



                Rossellini conta aqui a história de Edmund. um garoto vitima do seu passado, que se vê obrigado a abandonar sua infância atrás de trabalho para poder ajudar seu pai doente, sua irmã e seu irmão que não pode se apresentar a policia e conseguir autorização para trabalhar com medo de ser preso porque estava no exército de Hitler, a se alimentar e a sobreviver. Com isso, ele vai tendo contato com um mundo diferente onde é denunciado os jovens que se submetem a prostituição para conseguir dinheiro, adolescentes que roubam para ter algo, abuso sexual de menores de idade e com o que sobrou dos valores nazistas. Apesar dos seu arrependimento e suas vontades repentinas de ser criança, Edmund se deixa guiar pela razão, pela frieza, por questões que não aprendeu ainda, sucumbindo seus valores e deixando nascer dentro de si um homem que não tem maturidade para tomar decisões.


                As imagens reais gravadas dentro da própria Alemanha destruída, é a possibilidade que temos de presenciar mais de perto a situação do país. Temos por Rossellini quase que um álbum de história, com imagens e sentimentos. Assim como o trecho do inicio do texto, a fotografia da Segunda Guerra não está parada no tempo, e menos ainda limitada a imaginação e criatividade de um diretor, ela está em movimento abordando todos os ângulos do que restou de Berlin, desde tijolos em ruínas até a ruína da própria moral do homem alemão. Uma das imagens mais bonitas do filme, e sem dúvida a mais chocante, é a que o diretor consegue reunir a nova e a valha geração, com um fundo visual de destruição e a voz de Hitler inflando as esperanças dos alemães. Se a realidade pode ser esquecida no pensamento, aqui, unida com a arte, deixa uma amarga e angustiante recordação do que pode ser o nosso futuro se agirmos inconscientemente.


                Se a realidade é algo que dói, ALEMANHA, ANO ZERO é uma facada que marca, que mutila, para que nunca nos esqueçamos do que talvez não tenha sido o maior massacre do mundo, mas que com certeza foi o mais frio, o mais egoísta e impiedoso. Na Alemanha depois de Hitler, o problema não era mais ser perseguido pela morte, o problema da herança deixada por Hitler era estar vivo para sofrer, era se manter vivo de corpo e morto de alma. Talvez a morte da esperança germânica deformada por ela mesma, seja a morte definitiva das velhas ideias, dos velhos valores. Ou não.

Título Original: Germania, Anno Zero
Título no Brasil: Alemanha, Ano Zero
país de origem: Italia
Ano de Lançamento: 1948
Direção: Roberto Rossellini

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