Por Marcel moreno
Muitos são os filmes
que tentam retratar um casamento mal sucedido, que como consequência, algum
parceiro se aventura em uma relação extraconjugal com o intuito de suprir algo
que está ausente no casamento. Outro ponto abordado é a tentativa de fazer uma
adaptação de um livro, que neste caso foi muito bem sucedido, resgatando os pontos crucias da visão do escritor
e características dos personagens, sem deixar escapar a alma do livro. Madame
Bovary de Claude Chabrol é simplesmente uma película sem igual, colocando-a num
nível que podemos classificar como peça genuína da 7ª arte. Para uma adaptação,
o filme é fantástico, pois em nenhum momento você fica com dúvidas sobre alguma
cena por não ter lido o livro e nem fica perdido na história. Outro ponto é o
fato da interpretação da atriz, que alias lhe rendeu o prêmio de melhor atriz
no Festival de Cinema de Moscou, conseguir mostrar todos os reais sentimentos
da personagem para o telespectador.
Neste filme também há a
exposição da sociedade e toda sua hipocrisia. Diferentemente do filme UM AMOR
DE SWANN (1984) que expõe todos os lances da burguesia e quebra totalmente sua
imagem de perfeição, aqui temos um exemplo clássico de um relacionamento a dois
que por algum motivo não deu certo. Enquanto todos olham para as máscaras de um
médico casado com uma linda esposa e com uma linda filha, alem de uma boa
profissão e ganhos financeiros, dentro das paredes de alvenaria a história é
outra. O médico é casado com um mulher adultera que não liga para a filha e nem
para o marido, e mesmo que ele faça tudo para agrada-la, ela nunca fica
satisfeita, sempre presa no seu mundo e dominada por um depressão, envolta de
mentiras que modelam o seu viver todos os dias.
Emma era sobretudo uma mulher
sonhadora. Acreditou que casada com um médico teria o status que ela queria,
alem de, como uma mulher casada, desfrutar de todas as vantagens que a
sociedade dava para as pessoas com este status. Quando se viu em um casamento
totalmente diferente do que ela sonhava, entrou em uma depressão e momentos de
extrema solidão. Quando alguns homens começaram a aparecer na sua vida, começou
a ter atrações carnais, visto que ela não gostava de verdade dos parceiros que
arrumou, eles eram uma forma de suprir alguma necessidade, que nem ela mesmo
sabia, mascarando assim algo que faltava interiormente. Na verdade eles faziam
parte das mentiras que ela criava. Eles nunca diziam de verdade ou acreditavam
que iriam ficar com ela pelo resto da vida, mas ela mentia para si mesma
acreditando nisto. Por viver de aparência, acabou criando uma vida baseada em
mentiras, o que acabou levando-a a ruína, já que costumava presentear seus
amantes com presentes caros e usar roupas caras, todos os esforços feitos com assinaturas
de promissórias que acreditava um dia não precisar pagar porque estava sempre
arquitetando uma fuga.
Assim é o romance criado por
Flaubert trazido as telas com muito talento por Chabrol, que não deixou em
nenhum momento de imprimir na película sua assinatura, peculiaridade esta que
foi defendida por ele mesmo n movimento que conhecemos por Nouvelle Vague.
Assim, com cenas secas sem muito romantismo, Chabrol vai construindo a
personagem Emma, constituída de uma psicologia bem trabalhada, com detalhes
intrínsecos a ela, que combinado com a ótima atuação de Isabelle Huppert, temos
uma Madame Bovary vestindo as máscaras da burguesia da época. Quando vamos
conhecendo seu interior temos uma denuncia sobre a sociedade parisiense. Se
Flaubert pudesse ter vivido nesta nossa época, iria verificar que muita coisa
ainda é igual ao que foi idealizado por ele em seu romance. A sociedade cada
vez mais se mascara com os seus falsos moralismos, sustentados por pessoas hipócritas
que acreditam na teoria do certo e fazem o errado.
Título Original: Madame
Bovary
Título no Brasil: Madame
Bovary
Ano de Lançamento: 1991
Direção: Claude
Chabrol
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