9 de nov. de 2011

I SAW THE SUN (GÜNESI GÖRDÜM)


Marcel Moreno


                A vida dos homens que vivem no oriente médio, não é, e pelo jeito, nunca será fácil. As guerras instauradas por grupos armados, com idéias legitimas ou não, contra o Estado faz com que muitos migrem para outros países, passem a viver como nômades ou simplesmente -  como se a morte de um homem pudesse ser simples – morrem sem nenhuma possibilidade de se defender. O Estado tem o monopólio legítimo da violência conforme as idéias de Hobbes para garantir a paz social, mas certos grupos terroristas não reconhecem este monopólio e estabelecem uma guerra entre estes poderes, com o intuito de desestabilizar o poder do Estado fazendo-o perder poder, até que eles consigam o direito de governar de acordo com as suas premissas. Desta forma a população fica sem saída e optam ou por servir ao exercito ou aos terroristas que se intitulam revolucionários.

                Tudo isso está contido dentro do filme Günesi gördüm (I Saw The Sun) de Mahsun Kirmizigül. A vida de uma família tomada pela dor de ter
que deixar sua terra por conta dos conflitos existentes na área para poderem garantir suas vidas, marca como uma ferida aberta a vida destas pessoas. E isso é mostrado de forma limpa, como se pudéssemos ver fatos de um país que está em determinadas áreas sempre em guerra. Em primeiro lugar há a existência de um pai apaixonado pelas filhas em uma sociedade onde somente os filhos homens são valorizados. O amor que este pai têm pelas filhas é um amor não muito comum neste tipo de sociedade, visto que elas não eram tratadas como mercadoria, uma vez que se espera que as filhas casem e recebam os dotes. Em outro ponto da família vemos dois pais que padecem por terem dois filhos brigados e pertencentes a lados opostos dos conflitos: Um é terrorista e o outro soldado. Vemos também uma mãe que vive uma vida miserável e sofre com o fato de o filho ter perdido a perna em uma mina enterrada. A homossexualidade é tratada no filme e mostra como um assunto tão delicado provoca revolta e ódio em uma sociedade estritamente religiosa e ignorante.

                Com belas imagens, o filme vai levando o telespectador a um mundo muito diferente do que conhecemos aqui na América. As fotografias são exuberantes na beleza e grandiosas na realidade, capazes de realizar um teletransporte para lugares como Istambul ou Noruega, ligando momentos, paisagens e sentimentos. Outro assunto importantíssimo é o tratamento dado aos que partem de sua terra natal para tentar uma vida digna em um outro país, e inclusive as disparidades existentes entre um pais Europeu e um país como a Turquia, com suas formas de tratar os cidadãos e a forma de vida.


                No caso do homossexualismo a aceitação por parte da família é difícil por contas dos mandamentos e doutrinas da religião islâmica, já que isso fere os preceitos e é uma vergonha aos olhos dos outros. As travestis eram tratadas como seres de um submundo, vivendo escondidas e sendo agredidas por cidadão que se dizem seguidores de Ala. Sem possibilidade de se manterem financeiramente, como em qualquer lugar do mundo, eram obrigadas a se prostituirem e sujeitas a qualquer tipo de violência. E era justamente com o dinheiro da sociedade que elas se mantinham, porque mercado havia. Em um dos casos de ódio o amor de irmãos fala mais alto e possibilita o arrependimento.

Toda à relação das vidas com um país em guerra é genialmente colocado pelo diretor, e vai trilhando a longa e difícil passagem dos personagens e suas superações. Muitas cenas são de emocionar e colocar o telespectador para pensar. Uma das cenas mais emocionantes do filme levanta a duvida: Será que algumas coisas são incompatíveis com outras? Será que para alguns viverem outros tem que morrer? Sempre assim? A guerra vale mais que a paz e alguns milhares de vidas? Eu acredito que não. 

Título Original: I Saw The Sun
Ano de lançamento: 2009
Diretor: Mahsun Kirmizigül


2 comentários:

  1. Menino, que crítica linda! UAU! E ainda vendeu o peixe com a voz mais melódica possível! Além de bem escrito, o texto aborda tudo o que há de bom na obra.

    Pelas nossas conversas, não fazia ideia que ele trabalhava a homossexualidade. Interessante, porque isso em países do Oriente é mais tabu que nos lados de cá.

    Não concordo apenas com á tua exposição lá no início do texto. Aliás, é apenas uma citação, você não chega a tomar partido, mas não vejo a violência como algo legítimo nem para o Estado nem para os terroristas.

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  2. Luiz, quando me refiro ao uso legitimo da violência por parte do Estado, estou partindo do pressuposto das idéias do Contrato Social de Rousseau, o qual coloca que a partir de um pacto entre os homens o Estado agora seria responsável pela segurança e não mais cada um por si, e a saída do Estado de natureza para a criação de um Estado de Hobbes, onde o estado ganha poderes para coagir "transgressores da lei". Sendo assim, a palavra “monopólio legítimo da violência” pode parecer negativa, mas não se refere ao uso indiscriminado da violência contra todos, e sim a poderes que o Estado têm para a criação de uma força (PM, exército, etc) para garantir a segurança dos cidadão, excluindo assim a possibilidade de outros grupos formarem seus exércitos particulares, porque somente o Estado o poderia fazê-lo. Se existissem vários grupos armados disputando poder, como é o caso da Turquia e países do Oriente Médio, viveríamos em um completo caos e sem organização social. Diante do exposto, agora me diga o que é o caso dos grupos aramados (por exemplo na Favela do Alemão) existentes no Rio de Janeiro. Obrigado pelo comentário.

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