"Esta história acontece
entre duas guerras mundiais.
Quando a loucura
estava desencadeada,
que a liberdade mergulhava
e que a humanidade
era rudemente sacudida".
Por Marcel Moreno
O Grande Ditador
(1940) é um filme que de inicio não agrada muito. Quem está acostumado com o
velho Chaplin e seus belíssimos filmes mudos, se espanta um pouco com as vozes
pouco talentosas usadas neste filmes, que é o seu primeiro com voz, após
sobreviver a era do som iniciada em 1926, pois acreditava que a voz diminuiria
o apelo dos seus filmes em outros países. Anteriormente já era possível ver sua
voz cantarolando em TEMPOS MODERNOS (1936). Apesar de ser um filme que pertence
ao gênero comédia, é, em alguns momentos, difícil sorrir quando lembramos o que
foi a 2ª Guerra Mundial, porem é possível sim admirar a arte de fazer sorrir de
Chaplin em determinados instantes jocosos.
A história se
passa entre as duas grandes mazelas, digo guerras, as quais exterminaram muitos
soldados, pais de família, crianças, judeus e inocentes. Um dos personagens
principais é um barbeiro judeu, que ao participar de uma guerra, ajuda a salvar
a vida do comandante Schultz. Este soldado é um homem simples e valente. O
outro é um ditador chamado Adenoid Hynkel, clara referência a Adolf Hitler, é um
personagem frio, duro, egoísta e ao mesmo tempo medroso. Liderando um povo que
parece não entender o que ele diz - e não percebem seus intentos - Hynkel seguia
colocando em prática seus planos e estratégias para realizar seu desejo de dominar
o mundo, lembrada na cena imortal do ditador brincando com um globo, como se o
mundo um dia pudesse ser seu, exibindo as reais vontades deste homem motivado
pelos seus caprichos e não pelo mínimo de senso político. Mas nem mesmo valores
e estratégias justificariam seus atos.
São inúmeras as criticas
espalhadas pelo filme. Ele critica a forma como eram tratados os judeus na
Tomânia (Alemanha), tratando-os como uma raça inferior, exercendo seus
movimentos separatistas marcando os comércios judeus. Hitler ou Hylkel estava
destruindo seu próprio povo, com características físicas semelhantes, e é ai
que percebemos a genialidade de Chaplin, quando faz os dois papeis principais
com as mesmas peculiaridades físicas. Faz crítica a todas as religiões que
pregam que só é possível alcançar a Deus dentro de um grupo específico, quando
na verdade cita um pedaço da bíblia que diz que Deus está dentro de cada um de
nós. Crítica a governos que tiram o poder do povo em prol de suas vontades e
objetivos, esquecendo que o verdadeiro poder é do povo para o povo, exaurindo a
força popular e a luta pela democracia. Há ainda crítica aos soldados dos exércitos,
que servem somente aos interesses de seus generais, e se esquecem que também
têm sentimentos, desejos, paixões, lutando por valores que ou desconhecem ou
não entendem, matando pessoas e subjugando povos.
A parte mais
emocionante do filme se dá quando, o barbeiro judeus, usurpando o lugar do
ditador simplesmente por se parecer com ele, profere um discurso, que se
realmente fosse realidade, evitaria muitas mortes e o nosso mundo teria uma
história diferente. E no momentos de iniciar mais um ataque, que ele se vê obrigado
a proferir um discurso motivador para a tropa. Com um rosto pálido, uma feição
de falta de esperança, e ao mesmo tempo a eminência de uma ultima se não única
oportunidade de mudar tudo, ele fala. Seus olhos pensativos nos primeiros
instantes, sôfregos, desiludidos e sem poder em determinado momento, "se
ergue da justiça a clava forte", homem, conciso, humilde, esperançoso,
amoroso. Profere então um discurso clamando por amor ao próximos, nos lembrando
de viver para a felicidade, no caminho da liberdade e da beleza do viver, e
ainda que a cobiça do homem é que colocou o mundo no rumo que está. Brada pela
nossa atenção para as maquinas que vieram para produzir mais e acabaram por nos
deixar sem empregos na inópia do mundo. Pensamos demais e nos esquecemos de
perceber os sentimentos, dizia ele que precisamos de afeição e ternura, ao invés
de somente ideias, calculo e visões. Invoca pelo senso humano de proteção aos
nossos ideais e senso de continuidade da humanidade, não deixando que governos
defensores de um "sistema torturador que encarcera inocentes"
continue a nos governar.
Nos lembra que o poder é do povo para o povo, e deve
sempre ser assim, nações unidas brigando pelos seus direitos. Com estas
palavras sua voz se eleva, não no volume e nem na altura, mas nos depreende com
um som onipresente e onisciente, clamando por todos, pelo orgulho de sermos diferentes
e ao mesmo tempo iguais, clamando pelo amor ao próximo. "Look Up Hannah!" Erga os olhos Hannah! Look up
Everybody! Ergam todos os olhos! Contemplem a esperança. Ela é como o
sol, mesmo que não a vejamos em meio a escuridão, ela sempre está lá reluzindo
em nossos corações.
Título Original: The Great Dictator
Título no Brasil: O Grande Ditador
Ano de Lançamento: 1940
Direção:
Charlie Chaplin
Ótima crítica de uma obra-prima do Chaplin. Acho que é extremamente cômico, mesmo se tratando da 2ª Guerra Mundial. E é aí que reside a genialidade de Chaplin, brincar, não de forma desumana, de um dos eventos mais trágicos da história da humanidade - devo acrescentar que foi feito durante a própria 2ª Guerra. O discurso final me fez chorar muito, uma das coisas mais humanas já feito - sempre cito ele. "Pensamos em demasia e sentimos bem pouco". É verdade, Chaplin! http://www.lumi7.com.br/2011/12/um-close-up-na-setima-arte-taxi-driver.html
ResponderExcluirJúlio Pereira
Esse filme é o que se deve chamar de um verdadeiro clássico! Parabens pela postagem. Muito bom mesmo!
ResponderExcluir