15 de dez. de 2011

O GRANDE DITADOR - THE GREAT DICTATOR (1940)




"Esta história acontece
entre duas guerras mundiais.
Quando a loucura
estava desencadeada,
que a liberdade mergulhava
e que a humanidade
era rudemente sacudida".

Por Marcel Moreno

                O Grande Ditador (1940) é um filme que de inicio não agrada muito. Quem está acostumado com o velho Chaplin e seus belíssimos filmes mudos, se espanta um pouco com as vozes pouco talentosas usadas neste filmes, que é o seu primeiro com voz, após sobreviver a era do som iniciada em 1926, pois acreditava que a voz diminuiria o apelo dos seus filmes em outros países. Anteriormente já era possível ver sua voz cantarolando em TEMPOS MODERNOS (1936). Apesar de ser um filme que pertence ao gênero comédia, é, em alguns momentos, difícil sorrir quando lembramos o que foi a 2ª Guerra Mundial, porem é possível sim admirar a arte de fazer sorrir de Chaplin em determinados instantes jocosos.


                A história se passa entre as duas grandes mazelas, digo guerras, as quais exterminaram muitos soldados, pais de família, crianças, judeus e inocentes. Um dos personagens principais é um barbeiro judeu, que ao participar de uma guerra, ajuda a salvar a vida do comandante Schultz. Este soldado é um homem simples e valente. O outro é um ditador chamado Adenoid Hynkel, clara referência a Adolf Hitler, é um personagem frio, duro, egoísta e ao mesmo tempo medroso. Liderando um povo que parece não entender o que ele diz - e não percebem seus intentos - Hynkel seguia colocando em prática seus planos e estratégias para realizar seu desejo de dominar o mundo, lembrada na cena imortal do ditador brincando com um globo, como se o mundo um dia pudesse ser seu, exibindo as reais vontades deste homem motivado pelos seus caprichos e não pelo mínimo de senso político. Mas nem mesmo valores e estratégias justificariam seus atos.


                São inúmeras as criticas espalhadas pelo filme. Ele critica a forma como eram tratados os judeus na Tomânia (Alemanha), tratando-os como uma raça inferior, exercendo seus movimentos separatistas marcando os comércios judeus. Hitler ou Hylkel estava destruindo seu próprio povo, com características físicas semelhantes, e é ai que percebemos a genialidade de Chaplin, quando faz os dois papeis principais com as mesmas peculiaridades físicas. Faz crítica a todas as religiões que pregam que só é possível alcançar a Deus dentro de um grupo específico, quando na verdade cita um pedaço da bíblia que diz que Deus está dentro de cada um de nós. Crítica a governos que tiram o poder do povo em prol de suas vontades e objetivos, esquecendo que o verdadeiro poder é do povo para o povo, exaurindo a força popular e a luta pela democracia. Há ainda crítica aos soldados dos exércitos, que servem somente aos interesses de seus generais, e se esquecem que também têm sentimentos, desejos, paixões, lutando por valores que ou desconhecem ou não entendem, matando pessoas e subjugando povos.

                A parte mais emocionante do filme se dá quando, o barbeiro judeus, usurpando o lugar do ditador simplesmente por se parecer com ele, profere um discurso, que se realmente fosse realidade, evitaria muitas mortes e o nosso mundo teria uma história diferente. E no momentos de iniciar mais um ataque, que ele se vê obrigado a proferir um discurso motivador para a tropa. Com um rosto pálido, uma feição de falta de esperança, e ao mesmo tempo a eminência de uma ultima se não única oportunidade de mudar tudo, ele fala. Seus olhos pensativos nos primeiros instantes, sôfregos, desiludidos e sem poder em determinado momento, "se ergue da justiça a clava forte", homem, conciso, humilde, esperançoso, amoroso. Profere então um discurso clamando por amor ao próximos, nos lembrando de viver para a felicidade, no caminho da liberdade e da beleza do viver, e ainda que a cobiça do homem é que colocou o mundo no rumo que está. Brada pela nossa atenção para as maquinas que vieram para produzir mais e acabaram por nos deixar sem empregos na inópia do mundo. Pensamos demais e nos esquecemos de perceber os sentimentos, dizia ele que precisamos de afeição e ternura, ao invés de somente ideias, calculo e visões. Invoca pelo senso humano de proteção aos nossos ideais e senso de continuidade da humanidade, não deixando que governos defensores de um "sistema torturador que encarcera inocentes" continue a nos governar.
            Nos lembra que o poder é do povo para o povo, e deve sempre ser assim, nações unidas brigando pelos seus direitos. Com estas palavras sua voz se eleva, não no volume e nem na altura, mas nos depreende com um som onipresente e onisciente, clamando por todos, pelo orgulho de sermos diferentes e ao mesmo tempo iguais, clamando pelo amor ao próximo. "Look Up Hannah!" Erga os olhos Hannah! Look up Everybody! Ergam todos os olhos! Contemplem a esperança. Ela é como o sol, mesmo que não a vejamos em meio a escuridão, ela sempre está lá reluzindo em nossos corações.

Título Original: The Great Dictator
Título no Brasil: O Grande Ditador
Ano de Lançamento: 1940
Direção: Charlie Chaplin


2 comentários:

  1. Ótima crítica de uma obra-prima do Chaplin. Acho que é extremamente cômico, mesmo se tratando da 2ª Guerra Mundial. E é aí que reside a genialidade de Chaplin, brincar, não de forma desumana, de um dos eventos mais trágicos da história da humanidade - devo acrescentar que foi feito durante a própria 2ª Guerra. O discurso final me fez chorar muito, uma das coisas mais humanas já feito - sempre cito ele. "Pensamos em demasia e sentimos bem pouco". É verdade, Chaplin! http://www.lumi7.com.br/2011/12/um-close-up-na-setima-arte-taxi-driver.html

    Júlio Pereira

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  2. Esse filme é o que se deve chamar de um verdadeiro clássico! Parabens pela postagem. Muito bom mesmo!

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