Por Marcel Moreno
Alexandra é uma
mulher atenciosa, curiosa, destemida, com personalidade forte. Um ser
totalmente diferente daqueles que ali habitam, mesmo que eles permaneçam temporariamente
para nós, mas que são momentos intermináveis para eles, que sem saber do seu
destino, também não sabem por quanto tempo a sorte os manterão vivos. Os sons
constantes de helicópteros nos remete a todo momento a eminência da guerra. Os
sons sdão tão expressivos, que se nos deixarmos levar, eles nos colocará
cara-a-cara com a face da guerra. Alexandra, naquele ambiente totalmente
masculinizado, é um símbolo de esperança. Ela representa a atenção que é dada
ao homem enquanto homem, com sentimento, com angustias, com esperanças. Todos
querem ajudá-la, todos querem um sorriso, todos querem ser correspondidos
quando depositam no universo um pouco de seus sentimento, que por conta da
guerra, estava ali guardado em seus peitos, protegidos por um uniforme verde,
que é um escudo de proteção ao inimigo, e que se transforma em um escudo contra
o sentimento humano, ao mesmo tempo que veste o homem com uma máscara, a
mascara da guerra, como se com ele toda a sensibilidade para a menor
manifestação possível de afeto ou compaixão desaparecesse, sugado pelas armas e
o desejo de destruir.
Alexandra começa
o filme entrando com dificuldade em um trem e depois em um tanque de guerra. A
cena dela entrando no trem e vendo aquelas crianças trajadas de soldados, são
quase representações de anjos, é a vista de homens que perderam sua inocência e
são entregues aos interesses do próprio homem; Esta cena dá quase um tom de
semi-morte para ela, a qual está saindo do seu mundo. Quando sai com
dificuldade do trem e entra no tanque, para finalmente chegar no acampamento do
neto, ela tem seu nascimento. Este nascimento que se dá em um local totalmente fora
do seu mundo habitual, foi conduzida a uma esfera de vida totalmente voltada para
o desconhecido. Um mundo de homens, talvez sem respeito, sem garantias básicas
de vida. Curiosa, ela conhece algumas partes do acampamento, e quando se depara
com jovens limpando armas, percebe que isso é o que a guerra faz com os nossos
jovens, entregues a nada. Ela neste momento é a representação de todas as mães
e avós que zelam pelo futuro de seus filhos e netos, desejando-lhes um futuro
promissor, de bondade, caráter e dignidade, justo.
O ambiente é
sujo, quente, não há luxo, não há conforto, não há sentimento de fraternidade e
compaixão. Este é o ambiente que Alexandra fica por alguns dias para poder
visitar o neto. As cores são de um tom pastel de bege, verde e qualquer outra
que da um tom de areia. Com tons de cores parecidas, tudo se mistura como em um
quadro. Se por algum momento conseguir penetrar no filme, acreditará que tudo
foi feito do mesmo material, uma mesma vida, um mesmo destino. Estão todos
camuflado, como se o término de um é o inicio do outro. Não há mudança, é uma
corrente de um mesmo pensamento, de uma mesma ideologia. Um sentido da vida com
uma verdade oculta, uma história escondida, uma realidade inexistente para o
comum. Assim é a guerra. Um mistério sem fim, algo que chega a ser
incompreensível para os seres pensantes, algo que não condiz com o sentido da
vida humana, de construir e não destruir. A guerra é como se renegássemos a
nossa própria existência, a nossa própria identidade. Somos todos humanos, sem
diferenciações, mas nos reconhecemos como nação e esquecemos que viemos do
mesmo material, o qual deu origem ao primeiro homem. Guerreamos sem sentido,
destruímos o que poderia ser construído, melhorado. A guerra destrói o que há
de mais precioso no homem: A vida. A cena do banco camuflado, denuncia um
possibilidade das expressões humanas dentro de um ambiente totalmente contrário
a ela. Um banco poderia ser uma praça, um lugar de encontro, um local para
namorados, um belo lugar para ver o crepúsculo solar, mas aqui camuflado,
significa uma expressão humana mascarada pelo sentimento de terror, morte,
assassinato do próprio ser.
Os soldados tem
sempre aparências tristes, ininteligível, insolúvel, estáticos, como se o
destino já estivesse escrito, como se não dependesse deles e somente da guerra,
cansados e sem perspectivas, vagam como zumbis pelo acampamento, sem esperança,
esperando somente o exato momento de fazerem a passagem. Mas todos desejavam
atenção. Todos queriam ser reconhecidos. todos queriam tirar aquela mascara da
guerra e mostrar seu lado humano.
Quando Alexandra
conhece uma mulher do vilarejo próximo do acampamento, somos levados a uma
outra esfera, o universo feminino. Com a predominância de mulheres, somos transportados
a um ambiente que podemos notas os sentimentos de amizade, amor, sem interesse,
compaixão. Aqui vemos um mundo diferente do que vimos no acampamento dos
soldados, aqui é o ambiente humano. A guerra apesar de presente, não sobrepõe o
homem e seus valores. Aqui quem manda é o coração e a guerra é algo que mesmo
muito próximo, fica distante diante dos sentimentos femininos. Por elas a
guerra não existiria por ser tão desnecessária e inexplicável.
Alexandra é um
símbolo de esperança do começo ao fim. Até ela mesma necessita disto porque é
algo que o homem não consegue se desvincular. Precisamos de esperança para
continuarmos nosso caminho. Todos querem mostrar seu lado humano que é
sobreposto pela guerra. A esperança é que nos faz ter fé de que pode ser
diferente, de que podemos mudar. O filme
levanta a questão do orgulho militar. Que orgulho é este? Que orgulho é este
que ninguém entende, que não têm sentidos e que ninguém consegue explicar? Qual
é o orgulho que temos de destruirmos nossa própria identidade, irmãos de
sangue, homens tão homens quanto nós? A guerra limita o homem, o impede de
pensar, o tira do seu mundo colocando-o dentro de uma máscara que só serve aos
interesses alheios, e tira do homem um
dos seus bens mais preciosos: a fé e a esperança.
Título Original: Aleksandra
Título no Brasil: Alexandra
Ano de Lançamento: 2007
Direção:
Aleksandr Sukurov
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