8 de nov. de 2011

UM AMOR DE SWANN

Marcel Moreno            


     A história deste homem escrita por Marcel Proust simplesmente é um marco na literatura, não somente pelo enredo da história, mas pela criação de personagens tão fortes, pela descrição das mentes humanas e pela competência de criar um dos marcos do modernismo. Já a arte do cinema neste caso, não conseguiu resgatar tudo que o livro pode proporcionar. Seriam inúmeras as características livros x filme, mas como uma arte é diferente da outra, tentaremos ao máximo desvencilhá-los e avaliarmos somente o filme.

              Charles Swann era um homem rico, bem empregado e freqüentava pequenos clãs de burgueses da França do séc XIX. Swann era um homem que desconhecia a si como um apaixonado doentio, afinal “... Swann não se esforçava para achar bonitas as mulheres com as quais passava o tempo e sim
para passar o tempo com as mulheres que ele, antes de tudo, achara bonitas”. Quando conhece Odete de Crecy, mulher longe de ser o que ele gostava, apaixona-se e muda totalmente o centro da gravidade e começa a viver somente para pensar nela, para amá-la, para servi-la. Ele se afasta do seu trabalho, dos amigos e se coloca a disposição da sua mente que somente imagina o que acredita ser a realidade como neste trecho do livro: "Todas as manhãs, quando acordo, sinto a mesma dor. Sacrifico eu trabalho, meus prazeres, meus amigos. Toda a minha vida. Para esperar diariamente meu encontro com Odete. Meu amor é uma doença que alcançou um estágio em que não pode ser contida sem me destruir. Como dizem os cirurgiões, não é mais operável”. No quesito paixão avassaladora, o filme não deixa a desejar. Mostra bem a vida e os sentimentos de Swann. Como a França do Séc XIX, as fotografias do filme hipnotizam quem as olhar pela simples beleza e realismo das paisagens apresentadas no filme. Bem como as fotografias, as músicas usadas no filme dão uma impressão da qualidade e bom gosto das musicas clássicas do período.


              A personalidade de Odete impressa no filme é de uma mulher tinhosa e esperta. No livro muito pouco se fala sobre a personalidade, visto que o livro está focado na vida de Swann e como ele lidava com os sentimentos que pululavam em sua mente, tentava imaginar como seria a vida de Odete e isso lhe causava muitos transtornos mentais. A obsessão que ele tinha por Odete já estava ultrapassando as possibilidades físicas. Já não era possível viver separado dela.  Não é escrachado, como se Odete fosse uma criminosa, que ela era uma mulher da vida. A própria situação de conservadorismo da época não permitia que todas as informações fossem da sabedoria de todos, e mesmo porque Odete freqüentava grupos da alta sociedade e, se soubessem do seu passado, seria com certeza excluída. As críticas a sociedade contida no livro estão também retratada no filme. A futilidade, o conservadorismo, a falta de caráter e as sexualidades são mostradas no filme com uma magnitude que com certeza faria todo o falso moralismo da burguesia rebelar-se contra o filme.


              Em suma, o filme consegue trazer com grande talento Charles Swann, sua vida e sua paixão avassaladora por Odete. O ciúme que Charles sentia era somente pela Sra. De Crecy e nunca por seus supostos e imaginários amantes, e por isso os aceitava. Era impossível a Swann imaginar-se sem Odete ao seu lado. A grande sina de Swann era tentar sempre imaginar o que faria Odete e o que ela pensava a seu respeito.


Título original: Un Amour de swann
Título no Brasil: Um amor de Swann
Ano de lançamento: 1984
Dirigido por: Volker Schlöndorff

2 comentários:

  1. Amigo, fiquei sinceramente interessado e ver o filme. Conheço o diretor de outras obras, mas não fazia a mínima ideia que ele tinha adaptado alguma coisa do Proust. Parabéns pelo novo espaço. Está realmente lindo!

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  2. Swann não é só um doente de amor, ele, em si, não é muito bem mesmo. É uma personagem complexa em um livro aparentemente muito simples, mas qual! Não há simplicidade em Proust. E é aí que seu texto curto, sintético, mas muito bom, expõe. A complexidade da obra. Considero-o mais uma crítica literária que cinematográfica, posto que traz ranços inconfundíveis do livro. Ao que me parece, a trama o tocou às tantas. E é realmente tocante.

    Gostei do que li, Marcel Moreno. É um texto belo. Mas daria duas dicas a você. Primeiro, quando for escrever sobre um filme do qual você leu o livro, tente se desvencilhar ao máximo. Isso prejudica sua análise porque ela se torna essencialmente literária. Sabe quem consegue fazer isso de maneira irrepreensível? Esse rapazinho que comentou aí em cima. Os textos dele sobre Harry Potter e sobre Ten Little Nigers são ótimos exemplos.

    A segunda dica é, não aprisione suas ideias. Para qualquer olho treinado, seu texto tem um fôlego reprimido, é ingênuo porque me parece que em alguns momentos você deixou alguma ideia de lado, por algum motivo, e não deu continuidade a ela. As discussões que você levanta no final do segundo e do terceiro parágrafos são exemplos disso.

    Você escreve de maneira muito bonita, e escreve bem. Não se prive de expor suas ideias, querido.

    No mais, adorei o seu blog. Meus parabéns!

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