“Amizade nossa ele não queria acontecida simples,
no comum, sem encalço. A amizade dele, ele me
dava.
E amizade dada é amor.”
Grande
Sertão Veredas – Guimarães Rosa
Assim
como no trecho do livro de Guimarães Rosa, a amizade dos três era verdadeira, a
amizade era dada sem esperar nada em troca, a não ser a própria amizade. Apesar
das regras impostas para que não se apaixonassem, isso seria quase impossível, uma
vez que os sentimentos entre eles ultrapassavam os sentimentos de amizade e
esbarravam na paixão que aumentava a cada vez que se tornavam mais envolvidos e
cúmplices das situações vividas, o que causava a vontade crescente de quebrar
regras.
O filme Os
3 (2011) conta a história de três amigos de faculdade que moram juntos e acabam
se envolvendo afetivamente um com o outro. Juntos, desenvolveram um projeto de
venda de produtos na internet, através de um site onde os compradores veriam
pessoas reais utilizando produtos e assim poderem optar pela compra ou não. Acontece
que eles acabaram sendo os protagonistas do site, que passa a expor suas vidas
em troca de bons salários e produtos grátis. Com a falta de audiência mercado
on line de compras, eles correm o risco de sair do ar e por isso optam por fantasiar
a vida real envolvendo casos de amor a três, assalto, sexo, experiências homossexuais,
etc.
Quando a
vida real passa a ser atuada e não mais vivida, coloca-se um tom de viver uma
mentira, e não mais desfrutar do prazer de viver e ser feliz. Assim em prol do
dinheiro, suas vidas eram expostas na televisão, com um ar de realidade
cotidiana, mas com toques de teatralidade, que fazem com que eles vivam uma
mentira de fato. Quando mentira é envolvida na vida real como se fossem
realidades, corremos o risco de nos perdermos no caminho, e como errantes,
cometemos mazelas, atropelamos sentimentos e magoamos outras pessoas,
esquecendo até mesmo o que é que realmente sentimos. A mentira é algo que confunde
a vida. Confunde os outros e a nós mesmo. Troca o real pelo duvidoso. A pior
das mentiras é a que contamos para nós mesmo, porque nós sabemos da verdade, e
fazemos isso apenas para viver uma vida que não nos pertence, que não é real.
Qualquer
possibilidade de semelhança com o filme Os Sonhadores (2003) e pura ilusão, ou
muita criatividade da cabeça alheia. Diferente deste que conta a história de
três jovens cultos na França que vivem em seu mundinho e amadurecem, a ponto de
entenderem que aquilo que viviam era apenas uma parte de um todo, e passam a
lutar contra o fechamento da Cinemathèque parisiense e a favor
dos conceitos de Henri Langlis, em Os 3, os jovens se deixam levar pelo
capitalismo expondo suas intimidades e vivendo de mentiras apenas para
favorecer sua vida financeira, até que tudo sai do controle deles. Os conceitos
e idéias presentes no filme francês não se igualam em nada ao filme brasileiro,
o que não desmerece o nacional, mas não existem parâmetros e nem idéias que
possamos usar como base de uma comparação, já que tratam de idéias diferentes.
Assim o filme com um roteiro
original, muda seu ponto de vista e não aborda assuntos da sociedade brasileira
como de costume no cinema nacional, e segue a linha de filmes com roteiros envolvendo
atividades humanas muito além do cotidiano. Com uma história divertida e
diferente, Nando Olival traz para as telas do cinema alguns elementos como amor,
vida privada, amizade, relacionamento e mentiras, temperados com boa trilha
sonora e boas atuações de novos talentos do cinema brasileiro. Sempre haverá no
ser humano a curiosidade de saber o que passa na vida dos outros, afinal “a
vida é uma historinha gostosa de se acompanhar” quando é a do vizinho, porque quando
é a nossa, vamos logo tomar satisfação.
Título Original: Os 3
Ano de Lançamento: 2011
Direção: Nando Olival
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