Por Marcel Moreno
Este documentário
é um dos trabalhos mais exuberantes de sua época, não pelo fato de mostrar para
o publico um assunto importantíssimo, e algo que os nossos olhos provavelmente
não veriam de perto, mas por nos fazer
refletir sobre assuntos como arte e vida dos seres humanos, de homens que ali habitaram muito
anos antes da criação do cinema. Werner Herzog traz para nós um belo afã, onde
ele transcende a arte do cinema e da arte, e quase chega a ontologia, na qual
independente de como o homem se manifestava, deixou ali algo artístico. Herzog conseguiu mais um grande feito após Grizzly
Man (2005) e Encounters At the End of the Wolrd (2007), trabalhos que
demonstram seu grande talento em nos apresentar a vida na forma mais linda
conhecida desde 1895 com o cinematographe dos irmãos Lumiére, o cinema. Documentários são famosos neste mundo por poder
demonstrar a vida, consolidar imagens, apresentar ideias (como é o caso dos
documentários utilizados para disseminar as ideias do comunismo na União
Soviética), e ainda abrir um leque de
assuntos e possibilidades, trabalho que pode levar informações as massas e ainda entreter seus telespectadores.
Este documentário começa
mostrando o interior de uma caverna chamada Chauvet localizada na França, que foi encontrada por
pesquisadores em 1994, procurando indícios em um penhasco, e encontraram um
pequeno buraco que "mal passava uma pessoa" mas que saia um ar, um
pequeno sopro para a vida, um pequeno buraco do qual imergiria a historia de
uma grande civilização, um pequeno pedaço da minha ou da sua historia, feita de
uma beleza artística, idealizado por quem jamais saberemos, enterrada no
esquecimento para renascer da vontade do saber. Ao entrar na caverna
encontraram mais do que vestígios de vida humana, descobriram o espírito viva
daqueles que viveram ali por muito tempo, até desaparecer em carne, mas se
fazem presentes na representação. Ao observar suas paredes, puderem ver
desenhos de bichos, instrumentos de caçada, ursos, e puderem perceber que ali
figurava o representar da vitória do homem sobre o forte homem, e foram alem
percebendo uma a vontade de gravar no
tempo o seu feito, o seu intento realizado, sua história em pedra.
Olhando mais atentamente os
traços dos desenhos rupestres, foi verificado que alguns bichos tinham uma
quantidade de pernas maior do que o normal, e que os traços se repetiam quase
como na arte futurista, e os traços mal desenhados lembravam muito o cubismo,
artes estas que dominaram seu tempo, e puderam dar espaço para o surgimento do
modernismo. Em algumas partes da caverna puderam perceber que as figuras foram concebidas
em volta de saídas de água, o que artisticamente poderia significar a arte
envolvendo a vida. Todas as gravuras e seus traços combinados com as sombras
das tochas dos paleolíticos e também dos desbravadores da história, misturados,
davam movimentos, como se a dança das sombras geradas pelo fogo pudesse mostrar
que os desenhos ainda têm vida, movimento este que Herzog, em suas palavras,
diz parecer com o proto-cinema ou uma animação, como se os bichos ainda estavam
lá para contar um pedaço da história, porque se eram um esboço do que um dia foi
real, nada mais é do que a própria vida. Se a fotografia prende as imagens na
história, estas imagens arcaicas desenhadas na parede nada mais eram do que
imagens criadas com a intervenção do homem, geradas a partir de um olhar, de um
sentimento do artista.
Alem das belas imagens das
pinturas, também são mostradas as façanhas da natureza. Nem sempre o homem é
capaz de construir a beleza. A natureza já é bela no seu âmago, e se faz
presente quando nos apresenta na sua forma una, um danças de pedras e rochas, e
estalagmites e estalactites, água e montanha, plantas e arvores, compondo o
cenário de grandiosidade e sabedoria dos antepassados. Se engana quem pensa que
somos poderosos, se esquecendo que somos resultado de uma evolução, de uma
mistura de homem, arte e natureza, deixadas a mostra na caverna dos sonhos
esquecidos.
Herzog consegue com talento
trazer com o documentário momentos de reflexão não somente as simples do tipo
"de onde viemos" e "para onde vamos". As reflexões são mais
profundas e vão alem dos por quês, e chega ate onde o coração pode sentir, sem
tocar, retocadas na imaginação. Ele consegue juntamente com tudo de preciosos,
misturar cinema, arte e historia, colocando você dentro do documentário. Em
muitos momentos ficamos chocados com tamanha arte que representa e embalsama o
tempo. Que figura vastos indícios de um passado esquecido. Como mestre de nos
envolver, ele deixa a indagação sobre o que um bicho veria quando visse aqueles
desenhos? Ele se enxergaria nele? Ou seria apenas um reflexo? O que podemos
perceber deste abismo do tempo é que o passado foi renovado, e talvez recriado.
Que a arte já existia e a obsessão do homem de paralisar o tempo também. Aqueles
artistas paleolíticos jamais saberiam que imagem enquanto arte seria cada vez
mais superada e renovada. Que a fotografia viria para congelar o tempo e nos
deixar amar e apreciar aquilo que certamente nossos olhos deixariam passar. Que
o cinema viria para não mais paralisar no tempo as imagens, mas sim dar vida a
elas e dar uma continuidade como feito neste documentário as imagens que
retratam nosso passado, mas ai já é outra história.
Título Original: Cave of Forgotten Dreams
Título no Brasil: A Caverna
dos Sonhos Esquecidos
Ano de Lançamento: 2010
Direção: Werner
Herzog
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