3 de jan. de 2012

A CAVERNA DOS SONHOS ESQUECIDOS - THE CAVE OF FORGOTTEN DREAMS (2010)



Por Marcel Moreno


               Este documentário é um dos trabalhos mais exuberantes de sua época, não pelo fato de mostrar para o publico um assunto importantíssimo, e algo que os nossos olhos provavelmente não veriam de perto, mas por nos fazer refletir sobre assuntos como arte e vida dos seres humanos, de homens que ali habitaram muito anos antes da criação do cinema. Werner Herzog traz para nós um belo afã, onde ele transcende a arte do cinema e da arte, e quase chega a ontologia, na qual independente de como o homem se manifestava, deixou ali algo artístico. Herzog conseguiu mais um grande feito após Grizzly Man (2005) e Encounters At the End of the Wolrd (2007), trabalhos que demonstram seu grande talento em nos apresentar a vida na forma mais linda conhecida desde 1895 com o cinematographe dos irmãos Lumiére, o cinema. Documentários são famosos neste mundo por poder demonstrar a vida, consolidar imagens, apresentar ideias (como é o caso dos documentários utilizados para disseminar as ideias do comunismo na União Soviética), e  ainda abrir um leque de assuntos e possibilidades, trabalho que pode levar informações as massas e ainda entreter seus telespectadores.



                Este documentário começa mostrando o interior de uma caverna chamada Chauvet localizada  na França, que foi encontrada por pesquisadores em 1994, procurando indícios em um penhasco, e encontraram um pequeno buraco que "mal passava uma pessoa" mas que saia um ar, um pequeno sopro para a vida, um pequeno buraco do qual imergiria a historia de uma grande civilização, um pequeno pedaço da minha ou da sua historia, feita de uma beleza artística, idealizado por quem jamais saberemos, enterrada no esquecimento para renascer da vontade do saber. Ao entrar na caverna encontraram mais do que vestígios de vida humana, descobriram o espírito viva daqueles que viveram ali por muito tempo, até desaparecer em carne, mas se fazem presentes na representação. Ao observar suas paredes, puderem ver desenhos de bichos, instrumentos de caçada, ursos, e puderem perceber que ali figurava o representar da vitória do homem sobre o forte homem, e foram alem percebendo  uma a vontade de gravar no tempo o seu feito, o seu intento realizado, sua história em pedra.


                Olhando mais atentamente os traços dos desenhos rupestres, foi verificado que alguns bichos tinham uma quantidade de pernas maior do que o normal, e que os traços se repetiam quase como na arte futurista, e os traços mal desenhados lembravam muito o cubismo, artes estas que dominaram seu tempo, e puderam dar espaço para o surgimento do modernismo. Em algumas partes da caverna puderam perceber que as figuras foram concebidas em volta de saídas de água, o que artisticamente poderia significar a arte envolvendo a vida. Todas as gravuras e seus traços combinados com as sombras das tochas dos paleolíticos e também dos desbravadores da história, misturados, davam movimentos, como se a dança das sombras geradas pelo fogo pudesse mostrar que os desenhos ainda têm vida, movimento este que Herzog, em suas palavras, diz parecer com o proto-cinema ou uma animação, como se os bichos ainda estavam lá para contar um pedaço da história, porque se eram um esboço do que um dia foi real, nada mais é do que a própria vida. Se a fotografia prende as imagens na história, estas imagens arcaicas desenhadas na parede nada mais eram do que imagens criadas com a intervenção do homem, geradas a partir de um olhar, de um sentimento do artista.



                Alem das belas imagens das pinturas, também são mostradas as façanhas da natureza. Nem sempre o homem é capaz de construir a beleza. A natureza já é bela no seu âmago, e se faz presente quando nos apresenta na sua forma una, um danças de pedras e rochas, e estalagmites e estalactites, água e montanha, plantas e arvores, compondo o cenário de grandiosidade e sabedoria dos antepassados. Se engana quem pensa que somos poderosos, se esquecendo que somos resultado de uma evolução, de uma mistura de homem, arte e natureza, deixadas a mostra na caverna dos sonhos esquecidos.



                Herzog consegue com talento trazer com o documentário momentos de reflexão não somente as simples do tipo "de onde viemos" e "para onde vamos". As reflexões são mais profundas e vão alem dos por quês, e chega ate onde o coração pode sentir, sem tocar, retocadas na imaginação. Ele consegue juntamente com tudo de preciosos, misturar cinema, arte e historia, colocando você dentro do documentário. Em muitos momentos ficamos chocados com tamanha arte que representa e embalsama o tempo. Que figura vastos indícios de um passado esquecido. Como mestre de nos envolver, ele deixa a indagação sobre o que um bicho veria quando visse aqueles desenhos? Ele se enxergaria nele? Ou seria apenas um reflexo? O que podemos perceber deste abismo do tempo é que o passado foi renovado, e talvez recriado. Que a arte já existia e a obsessão do homem de paralisar o tempo também. Aqueles artistas paleolíticos jamais saberiam que imagem enquanto arte seria cada vez mais superada e renovada. Que a fotografia viria para congelar o tempo e nos deixar amar e apreciar aquilo que certamente nossos olhos deixariam passar. Que o cinema viria para não mais paralisar no tempo as imagens, mas sim dar vida a elas e dar uma continuidade como feito neste documentário as imagens que retratam nosso passado, mas ai já é outra história.


Título Original: Cave of Forgotten Dreams
Título no Brasil: A Caverna dos Sonhos Esquecidos
Ano de Lançamento: 2010
Direção: Werner Herzog


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