15 de nov. de 2011

LARANJA MECÂNICA - A CLOCKWORK ORANGE (1971)

             
 por Marcel Moreno


            Muitos diretores da atualidade tentam expor nossa sociedade em um filme, mas poucos conseguiram com tanta assertividade como Kubrick. Ele consegue trazer a tona vários problemas da nossa sociedade atual - mesmo que o filme seja datado do ano de 1971 – e vai colocando-os na cara do telespectador, como alguém bem próximo prestes a cometer qualquer ato. Vai esfacelando cada personagem da junta cotidiana e deixando-o a esmo das nossas interpretações e entendimentos.


                O que de início o filme mostra com muito realismo são jovens que sem controle, fazem o que bem entendem, cometendo crimes contra o homem, estuprando mulheres, roubando, assassinando e disputando poder com outros grupos. Mas estes jovens são produtos do que? De famílias pouco preocupadas com o paradeiro dos filhos e como eles conseguem seu dinheiro, deixando de lado o poder da educação, quando delegam aos filhos a opção de ir ou não à escola. Este distanciamento dos pais, mostra a estrutura danificada das famílias, com genitores mais preocupados com suas vidas particulares do que a família como um todo.  



                Fica muito claro no filme a posição da ciência e da igreja, e suas desavenças, no papel da educação da sociedade e doutrinar o povo a seguir a etiqueta urbana. De um lado temos uma igreja fracassada, a qual ninguém mais respeita ou tem fé, a ponto de se cometer a falsa impressão de que a classe eclesiástica estava de fato exercendo poder sobre as decisões das pessoas. Do outro temos a ciência, que apoiada pelo Estado, acredita que pode mudar a mente de um homem simplesmente submetendo-o a experimentos, acreditando que se conseguir inibir do homem as suas possibilidades de escolha ele será curado de uma doença, causando desconfortos físicos quando impelido a fazer o mal, colocando a ciência em uma posição fascista quando opta pela censura de todas as escolhas morais do homem em detrimento ao espírito do malfeitor, pois mostra que a sua maior preocupação, como a do Estado, é simplesmente diminuir a criminalidade tratando as pessoas como simples números, tirando delas o espírito Homo Sapien.



                Não podemos deixar de notar a forma que Kubrick retrata a sociedade como um todo. Pessoas sem sentimento de compaixão pelo próximo, instituições familiares problemáticas, igrejas sem credibilidade, uma ciência fascista e jovens violentos. Como se não bastasse, políticos disputando poder, passando por cima de tudo e sem se importar com ninguém, visando somente o interesse das próximas eleições. Problemas cotidianos que são capazes de avivar qualquer insanidade dentro de um homem comum, que vai chegando como quem não quer nada, como quem não representa nenhum perigo, como a 9ª sinfonia de Beethoven.


                E assim Kubrick mostra de forma nua um universo doentio, uma sociedade de pessoas confusas, egoístas e mal intencionadas, trazendo som para curar o estado de amouco dos homens alienados. Ele vai levantando os pilares de uma sociedade atemporal, que cabe em qualquer país e em qualquer lugar do globo, que vai sendo desmantelada de forma direta, como uma cirurgia obstetrícia feita em 1971, o qual do seu interior saíra uma sujeira maior do que se pode imaginar, como quem dá a luz a sociedade atual.

Título Original: A Clockwork Orange
Título no Brasil: Laranja Mecânica
Ano de Lançamento: 1971
Direção: Stanley Kubrick

*Dedico este texto a você Luiz Santiago, uma pessoa muito especial para o mundo cinematográfico.

6 comentários:

  1. Laranja Mecânica é uma obra de genialidade singular, lembro de quando o vi pela primeira vez na faculdade. O usamos para fazer uma desconstrução da teoria crítica da comunicação, na ocasião a análise rendeu...
    .
    Parabéns pelo Blog e pela excelente análise!
    Estou lhe seguindo!
    http://sublimeirrealidade.blogspot.com/2011/11/os-infiltrados.html

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  2. Parabéns pelo texto.ótimas pontuações

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  3. grande filme! Obra-prima e contudente. Otimo texto, adorei teu espaço, apareça para conhecer o meu! Vou te linkar para acompanhar suas postagens. Abração!

    http://umanoem365filmes.blogspot.com/

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  4. Marcel, meu caro amigo, além de me sentir lisonjeado com a dedicatória, devo dizer que este é um dos melhores textos que você já escreveu sobre cinema. Um texto engajado, político, sociológico, contumaz. Gosto da abordagem seca e dura que você empreendeu aqui. Meus parabéns pela maravilhosa visão, que traz todos os pontos críticos expostos nessa obra prima maior da história do cinema.

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  5. Gostei muito de sentir seu texto... isso mesmo, sentir! Não apenas ler. Como vc já deve ter percebido, lá no Filmow, gosto muito desse filme! Assim como, tbem, sou fascinada por Kubrick!

    Nessa semana desabafei lá no Filmow e no facebook(apimentários), a respeito de algumas "críticas" totalmente infundadas, em relação a essa obra prima da sétima arte. Comentários esses que me deixaram P. da vida... mas, já passou! kkkkkkkkkkkk... Grande beijo

    Ah, apareça lá pelo Umas e outras. Meu blog não é sobre filmes(apesar de amarrrr essa arte, imensamente). Aliás, não tem uma temática específica... lá, falo de tudo o que dá vontade. Uma espécie de "sessão descarrego virtual"!!! ;)

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  6. Este filme é genial em muitos sentidos (assim como o livro que o originou), tanto que cria sua própria linguagem (e usa termos atuais como .com e offline).
    Acho que a principal mensagem dele (além das expressadas aqui) é que a violência do Estado é muito maior do que a dos indivíduos.
    Abraço.

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